M Dias Branco MDIA3 3T22: novo recorde de faturamento e inflação de custos com impacto nas margens
A M Dias Branco reportou mais um trimestre com resultados operacionais bastante satisfatórios como consequência de seu elevado poder de precificação, de sua disciplina no controle de custos e despesas e da contribuição das aquisições realizadas, principalmente no que se refere à inclusão de produtos de maior valor agregado no mix de vendas. Mesmo diante de um cenário inflacionário de custos – especialmente dos preços das commodities (trigo e óleo de palma) como consequência dos conflitos entre Rússia e Ucrânia desde o início do ano – que impactaram o CPV da companhia neste trimestre, a empresa reportou crescimento de dois dígitos (+16,2% a/a) no EBITDA, apesar da retração de 1,9 p.p. na margem – conforme já esperávamos.
Em 31/10, a M Dias Branco anunciou a aquisição da companhia Las Acacias, fabricante de massas no Uruguai, com o objetivo de intensificação do processo de internacionalização da M Dias, que até então se dava por meio de exportações diretas para mais de 40 países, inclusive o Uruguai. Apesar de uma transação que pode ser considerada de pequeno porte (com faturamento de ~R$120 milhões e margem EBITDA ~14%), marca a primeira aquisição da M Dias fora do Brasil, com portfolio diversificado e produtos de categorias distintas.
A participação de mercado da M Dias Branco, em percentual de volume vendido, permaneceu próxima de 30%, tanto na categoria de biscoitos como em massas, mantendo a companhia na liderança nacional, no período acumulado de 9M22. A administração da empresa permanece bastante confiante na execução de sua estratégia de crescimento sem abrir mão da rentabilidade, mesmo atravessando cenários bastante desafiadores e voláteis (como a pandemia e a guerra no Leste Europeu).
Destaques Operacionais e Financeiros M Dias Branco
A M Dias Branco reportou novo recorde trimestral de receita líquida, que atingiu R$ 2,9 bilhões no 3T22, com crescimento de 36,6% a/a, fruto do aumento de 29,1% no preço médio e do avanço de 5,7% em volumes. A elevação de preços médios ocorreu em todas as categorias, com destaque para o reajuste de 49,4% a/a em outras linhas de produtos, como reflexo das aquisições da Jasmine e da Latinex, com a introdução de novas categorias com produtos de alto valor agregado.
Os custos dos produtos vendidos apresentaram crescimento de 43,2% a/a, e representaram 77,8% da receita líquida (+3,6 p.p. a/a), como reflexo do aumento de preços do trigo e do óleo de palma durante o 2T22 – a M Dias Branco possui um estoque de matéria-prima robusto, por isso há defasagem do impacto da elevação do preço de mercado dessas commodities no custo da companhia. Como consequência, a margem bruta retraiu 2,9 p.p. a/a, mesmo com o avanço de 24,1% a/a no lucro bruto do 3T22.
As despesas com vendas, gerais e administrativas tiveram crescimento de 27,5% a/a, justificado principalmente pela inflação de preços de combustíveis e de despesas com as aquisições. Por outro lado, como percentual da receita líquida, as despesas operacionais retraíam 1,4 p.p. a/a, para 20,1%, refletindo ganhos de produtividade e eficiência capturados nos últimos anos.
O EBITDA do 3T22 atingiu R$ 333,1 milhões, crescimento de 16,2% a/a, com retração de 1,9 p.p. na margem. O lucro líquido totalizou R$ 195 milhões, queda de -0,8% a/a, impactado pelo resultado financeiro negativo de R$ 69,5 milhões no trimestre, versus R$ 2,6 milhões negativo no 3T21, em razão de maiores custos com hedge cambial e elevação do CDI no período.
A M Dias Branco encerrou o 3T22 com alavancagem financeira de 1,7x dívida líquida/EBITDA, versus uma posição de caixa líquido no 3T21, em razão (i) do pagamento das aquisições realizadas (Latinex e Jasmine, que somaram R$ 524 milhões), (ii) do pagamento de JCP no valor de R$ 561 milhões e (iii) dos investimentos (capex) no total de R$ 259 milhões, que impactaram o caixa do período.
Desempenho da ação
Após dispararem em reação aos fortes resultados apresentados no 2T22, os papéis da M Dias Branco mantiveram o patamar de preço mais elevado, oscilando entre R$ 40-45. No acumulado do ano, as ações MDIA3 se valorizam 66%1 , bem acima dos 7,1% de ganho do Ibovespa no período.
Diante da melhora do cenário de preços de commodities, especialmente o trigo, cujas cotações internacionais seguem em tendência de queda gradual, e do avanço da colheita da safra do cereal no Brasil em ritmo satisfatório, as perspectivas com relação a custos de matéria-prima para a M Dias Branco são mais favoráveis, o que deverá contribuir para as margens operacionais à frente, já que a estratégia de precificação da companhia tem se mostrado bem sucedida. Além disso, esperamos que as aquisições recentes continuem fortalecendo o mix de vendas e impactem positivamente a rentabilidade consolidada, bem como a geração de caixa e nível de alavancagem.
Embora reconhecemos que a empresa vem entregando resultados consistentes, mesmo diante de um cenário adverso, considerando-se a inflação de alimentos, entendemos que o patamar de preço da ação já está refletindo a expectativa de continuidade dessa boa performance. Observamos que os papéis estão sendo negociados com desconto de 17% sobre o múltiplo histórico², mas oferecem limitado potencial de upside para nosso preço-alvo para o final de 2023, de R$ 40,00/ação, motivo pelo qual mantemos nossa recomendação Neutra.